Svetlanas no mundo… birds of a feather

Este blog começa a parecer um tour aos mercados de coisas em segunda mão. Pois que nem era eu se não procurasse a homóloga da feira da ladra em Genève. Não só encontrei a feira homóloga como a quinquilheira homóloga. O meu tour inaugurou-se com um acontecimento que faz jus ao nome do mercado: Marché aux Puces, como quem diz Mercado das Pulgas. Não, não fui atacada por uma invasão de pulgas. Se assim fosse, já estaria com uma dose de cortisona tal que me deixaria com umas mãos sapudinhas que me impediriam de escrever. A verdade é que mal entrei no recinto, dei de caras com um lulu a dirigir-se sorrateiramente a uma caixa de costura forradinha a tecido adamascado e voilá!, marca o seu território com um xixi en passant sobre a dita caixa. Imagine-se a minha vontade de comprar qualquer quinquilharia naquele mercado. Mas como sou uma tralheira-mor e nem o facto de ter de pagar bagagem a mais me demove de comprar quinquilharia além terras lusitanas, dei inicio ao consumo compulsivo. Mais, quis o destino que se juntassem duas mulheres igualmente tralheiras, ou dito de uma forma mais culti, apaixonadas pelo vintage: conheci Pali, a minha parente russa. Há muito que me sinto uma pessoa de leste. Sei lá… tenho essa mania, pronto! Podia ser pior. É verdade que, noutras vidas que aqui não vêm ao caso, visto a pele de uma personagem russa e até os meus conterrâneos portugueses e agora genevenses, me confundem frequentemente com uma Sevtlana. Devo dizer que tenho pouco mais de um metro e meio. Mas isso não interessa nada, as matrioskas são de vários tamanhos e eu sou uma das do meio. Há umas semanas, a caminho de um documentário sobre a vida de Josephine Baker, fui apanhada na rua, tal sem-abrigo, por uma rapariga vietnamita que me viu com um ar tão perdido, que logo que apresentou às suas amigas. Empatizei logo com uma ruivita de olhos esbugalhados (por que será?) e percebemos que tínhamos imensas coisas em comum. Pela primeira vez na minha vida, olhei para alguém e pensei: podia ser minha irmã! Conversa aqui, conversa ali… pimba, ela surpreende-me com esta: Eu sou russa! Não notaste pelo meu francês com pronúncia? Ya… como se eu conseguisse adivinhar alguma coisa nesta terra no que toca a línguas e nacionalidades. Suíços italianos, suíços franceses, suíços alemães, já para não falar dos suíços portugueses (acho que pela quantidade, já mereciam um cantão federal luso). Ficámos loucamente amicalizadas e combinámos logo uma ida ao mercado. Meu deus! Cada uma pior que a outra. Eu ditava os preços e explicava as estratégias de negócio, ela sorria e regateava doucement com os vendedores. Bonecas decapitadas, botões swarovski, robes, máquinas de picar carne, carrinhos de bebé, necessaires… comprámos de tudo um pouco. Uma das regras de ouro do “doente quinquilheiro” passa por ir devidamente acompanhado por uma pessoa pragmática, pouco dada a feiras e que tem nojo de tudo. Depois vêm as desculpas: é ecológico, estamos a reutilizar; é património imaterial, estamos a comprar objectos com história e é desumano deixar estas preciosidades abandono; são materiais de outro tempo, já não se fazem coisas com esta qualidade; são objectos vintage e não retro, têm outro valor! (só para fazer inveja aos amigos da “cena”). Sei que vim carregada que nem uma mula com sacos e malas, de um e outro lado da bicicleta. Como diria o meu pai…acho que vou a caminho de um 4º quarto (trocadilho mesmo à pai). Ai (suspiro)… quando é que o minimalismo chegará à minha vida?

Bienvenue en Suisse, Madame! Bienvenue en Portugal!

Quando uma pessoa emigra, um dos primeiros exercícios mentais que elabora é: farei tudo para me confundirem com uma nativa? ou farei tudo para exacerbar a minha originalidade e parecer exótica?. Ora, quando se vai para a Suíça é difícil fazer de uma portuguesa uma mulher exótica, pois o que mais prolífera nas grandes avenidas helvéticas é essa bela portuguesa com que eu quero casar e nem sempre a imagem que eles têm de nós é a melhor … Ah…uma portuguesa…uma mulher morena, baixa, de bigode, que fala alto nos autocarros… daquelas que os bebés suíços têm medo, se não comeres, vem aí o português e leva-te num saco!. . Enfim, talvez passemos à estratégia 1. Bem… O que é que eu tenho em comum com os suíços: Sou rica? Em sonhos, mas pobre, pobre em ouro. Faço desportos na neve? Há muitos anos… num trenó, que passou mais tempo no presépio de Natal do que numa montanha. Gosto de queijo? Devem-me estar a gozar! Sou orientada para o trabalho? Tem dias. Uso relógio e tenho relógios em todos os cantos imaginários da casa? Uso o telemóvel e se for preciso, não mudei as horas desde que o telemóvel caiu no chão. Acordo com as frestas da janela. Enfim…também está a ficar complicado. Acho que vou fazer um mix. Sou ruiva (falsa). A maior parte das pessoas perguntam-me se venho de Leste. Quando cheguei tinha logo uma piadinha contra os franceses. Acho que marquei pontos. Mon vol a été retardé a cause de la grève des contrôleurs aériens français! (o meu vocabulário acabou) Os franceses, os franceses, não sabem fazer outra coisa senão greves, mas trabalhar ‘tá quieto!. Um bom início. Achei também que podia fazer a minha própria contabilidade organizada no meu pequeno banco doméstico. Resolvi fazer uma base de dados com as minhas despesas financeiras. Excel é demasiado básico. Bora lá para o SPSS. Tenho dia, local de compra, tipo de compra, custo em francos, custo em euros. Mais uns dias e estou apta a fazer uma análise da regressão e prever os gasto do próximo mês. Escusado será dizer que ao 4º dia, já estava farta. Depois de encontrar mil portugueses no autocarro, no café, no supermercado, na cantina, na faculdade, na mercearia, no restaurante em frente à minha casa, o “Bela Bràsa”, resolvi ir passear pela rua mais chique de Genève e sonhar com as montras da Dior, Cartier, Dolce & Gabana, eteceterá… Estava quase quase a sentir-me noutro país quando começo a ouvir um som ainda difuso, mas familiar e uma mancha negra que me activou o chip de Coimbra. Pois é…era o que eu temia… uma tuna! A tuna de medicina do Porto! Passei de mansinho, caladinha, escondi o livro em português que tinha na mão e entrei na H&M. No fundo, eu sou como a H&M, sou uma pessoa do mundo. Resta-me desejar que ninguém me confunda com a Fanny! (bates forte cá dentro http://www.youtube.com/watch?v=SB5raA60Gco)

Ain’t no sunshine when they want

A minha amizade por D. foi imediata, mal eu a vi com o seu casaco ovelha num sol de março, daqueles dias em que as pessoas desejosas de estrear a roupa que compraram na coleção da nova estação, põem o óculo de sol, usam pela primeira vez saia sem meia e tops estivais e se passeiam por meio de umas poucas transeuntes de botas, collants opacos, sobretudo, e atrevo-me até a enumerar, quiçá, uma estola. Eu sou uma dessas transeuntes e a D. também! No dia da mulher, comemoração que “tanto me faz como me deu” – confesso que não me envolvo em discussões sobre a natureza discriminatória desse dia ou forma perversa de relembrar igualdade de direitos… dá-me seca – fui almoçar com ela. Desde que nos conhecemos, que fazemos planos. Aliás, atrevo-me a dizer que ficamos extasiadas com os nossos planos, mas nada mais do que isso. Porque na verdade, eles nunca se concretizam ou então, a sua concretização é totalmente avessa ou estrambólica. Um dos eternos planos, comum aos restantes mortais, ou melhor, mais às restantes mortais, é o plano de emagrecimento. Quantas vezes começamos o nosso diálogo com É hoje, vou começar a fazer dieta… Depois deste fim-de-semana, vou começar a ir ao ginásio todos os dias... Uma colega minha aqui do trabalho, disse-me que a dieta do limão é maravilhosa, um copo de sumo de limão em jejum… e imediatamente nas nossas cabeças tudo isto se transforma em: e se fossemos comer uns caracóis, o caracol é tão piqueno, não tem nada que comer e a cerveja é diurética….perfeito! E se em vez de irmos ao ginásio, fossemos sair e ficar num after… tantas horas a dançar e a beber, sem comer, deve ser infalível! Até podemos beber vodka limão e deve ter o mesmo efeito que a limonada em jejum… Vou ter contigo de táxi às 23h. Na volta até ficamos só pelo jantar, é preferível gastar dinheiro a comer bem do que numa noitada. Aiiii…queria tanto ter um desgosto de amor! Empresta-me aquele filho da mãe. Mais, ficamos assustadas se perdemos um kilo. Julgamos que estamos a ficar anorécticas ou que vamos perder as curvas que não nos cansamos de gabar. Aliás, salva-nos a ideia que defendemos com todas as nossas forças: a mulher quer-se como a coca-cola (que muitas vezes, se assemelha, à nossa forma, mas a lata, não a garrafa). Enfim… pois que fomos então almoçar, depois de uma mestra em técnicas de drenagem, que levam um prémio de desempenho se conseguirem induzir a pessoa ao suicídio, nos ter feito uma avaliação do tecido muscular, ou nas palavras dela, do tecido liposo, que segundo aquela cabra era o que mais abundava nas nossas pernas. Muito bem, venham então umas pataniscas e um arroz de cabidela, e duas taças de tinto! Contidas, quase enjoadas do fecho apertado ou do botão que nos negámos a desabotoar, sentámo-nos agasalhadinhas nas nossas vestes escandinavas e enquanto D. fumava o seu belo cigarro, eis que a minha pessoa, muitas vezes não tendo consciência do volume das suas palavras, praguejou: Passeiem-se assim ao sol, hão-de ficar todas com meningite! Vi 100 olhos apontados a mim, dois em especial, que pertenciam a duas colegas de trabalho de D.. Recuei, despedi-me da D., desejando-lhe boa sorte para se retratar junto das colegas à conta da amiga com suposto síndrome de Tourette, escondi-me atrás dos óculos escuros e enfiei-me rapidamente no autocarro. Achei que devia punir-me e fui apanhar sol para a varanda de bikini.

birds do it…let’s fall in love

Eram 7:30 e a antena 1 acordava-me ao som de Rita Lee: desculpe o auê, eu não queria magoar você. Bem podias pedir desculpa, Rita! Interrompeste o sonho maravilhoso que eu estava a ter, onde uma estrela de rock lusitano-japonesa se apaixonava perdidamente por mim na velha sala do Ritz. Finalmente, quando parecia estar a dar passos em direcção à superação do lugar-comum de “gaja” – talvez nunca mais volte a sentir aquele friozinho na barriga – e na esperança de ir a correr até ao consultório da minha psicanalista com a boa-nova, a minha actividade onírica já me permite elaborar sobre outra entidade masculina passível de se constituir como meu objecto de investimento, fod*-se! P*ta que pariu a Rita Lee e mais a merda do auê! Frustrada pela interrupção da minha concretização emocional onírica, decidi investir em outros terrenos. OK… não posso ir numa de look “apanhada pelos paparazzi” (de havaiana, óculos ray-ban e boné dos lakers) até à Hermès e comprar uma Kelly bag … também não me apetece levar o atestado da pessoa mais desequilibrada do mundo em cima da fitball na aula de Pilates… adorava investir na bolsa, gritar com todas as forças, de gravata arregaçada, telefone apoiado entre a orelha e o ombro e …feira da ladra! Eu sei. É o surto maníaco dos pobres. Mas foi mesmo por aí que (re)começou o meu dia. Fui ter com a C. à Graça. Sempre que vou a casa dela penso por que razão não vivo ali também. Contudo, esse pensamento desvanece-se com duas palavras as alturas e a varanda! A C. é alérgica aos gatos, então parece-me, e tornou-se evidente esta manhã, que encontrou uma maneira de culminar esse desejo: coleccionar bibelôs de animais, Ordem Passariformes aka. Aves. Lá fomos as duas, de braço dado e mala fechada tipo meninas saloias que vêm da terra e têm medo de ser assaltadas em Lisboa, e começámos a busca incessante por estátuas de animais, dando prioridade, aos pássaros. Parecíamos duas baratas tontas: “C. à direita…um pato…R., olha aqui, este é para pintar e é só 1 euro… olha este faisão ou águia (águia Victória) gigante…ah um pinguim de Alcobaça, 15 euros, foge!” . Eu fiquei colada nos quatro espelhos com as estações do ano de Mucha. Uma senhora indiana ou romena (eu sei….à partida não são duas identidades que se confundam) pediu-me 25 euros por tais “raridades” e eu aproveitei para regatear com todas as minhas forças e assim libertar toda a tensão acumulada. Como pude ser tão egoísta! A senhora foi amorosa e segredou-me que queria muito “estrear-se” comigo porque achava que eu lhe ia dar sorte para as vendas do resto do dia. Senti um aperto no coração quando lhe dei os 12 euros tão fervorosamente negociados, mas já não podia voltar atrás. Então, resolvi compensá-la de alguma forma e comprei-lhe uma malinha de palha cujo fecho estava terrivelmente ferrugento, motivo mais que suficiente para regatear, mas…. mesmo assim, regateei, confesso! Sou a pior pessoa do mundo! Enfim… Ela ficou feliz, eu fiquei feliz, a C. ficou feliz, o marido da senhora talvez não tenha ficado tão feliz, mas 3 contra 1 (e masculino), ganha a felicidade! Saí da feira envergando uns óculos de sol, para poder chorar ao som de Natércia Barreto, e eis senão quando: parece uma estrela de cinema…tal Sophia Lohren! Birds do it, let’s fall in love!